Até lá e de Volta - O Carioca e a Serra Revisitados!
Tenho que confessar (o que não é segredo) a minha predileção pelas escalada no Rio de Janeiro e especialmente na Serra. Entrei de sócio no CEC em 1993 com objetivo de conhecer a Serra do RJ, desde então fiz inúmeros cumes interessantes, passei perrengues e etc… Desde que voltei a frequentar e escalar pelo Carioca, a possibilidade de frequentar Salinas e escalar por lá me motivaram, tanto que a minha primeira atividade foi guiar um grupo misto CEC e CEB ao Pico Médio em setembro de 2016, com direito a pizza e festa no Portela.
oto da vista desde o cume do Pico Médio
a
descida e o cume do Pico Menor.
Obviamente as idas a Salinas mudaram desde a minha primeira escalada lá em 1995 (que foi pelo CEC com o Maicon Lisboa). Agora temos abrigos com energia elétrica e água quente, sinal de celular e rodízios de pizza. Já foi muito mais roots! Mas o Charão, a Carla e o Marcos me chamaram para voltar a ativa no Cube sendo muito solícitos e amigos… Reencontrei antigos amigos, como o Fred, a Ciça, Marina e Silvio (só para citar alguns) e voltei a escalar… Mas isso ainda estava pouco pra mim, tinha como objetivo voltar à Serra, às paredes que me fazem tão bem, e aos cumes desejados desde sempre.
Então durante o ano de 2017 fiz várias viagens à Serra, com objetivo de me readaptar… tentei organizar a temporada com pontos altos e baixos, forçar uns momentos e deixar o corpo descansar… Assim foram várias escaladas, que agora me parecem treinamento, que foram bem executadas e proveitosas só que sem a cereja do bolo… um cume! No dia 31 de dezembro de 2016 até fiz o cume do Capacete pela Kabong, mas foi com o Ricardo Penna do CEG, assim ainda não contava como excursão do CEC.
Aí no dia 01 de janeiro de 2017 fui com o Marcos Dias no Pontão do Sol… meio ressacado, com equipamentos em péssimo estado e velhos, de chinelo havaianas, logística erradassa, mas o Marcos me aturou e conseguimos fazer uns quatro esticões da Sol Celeste. Esta via que está me dando uma surra de quatro capítulos; desde então foram três tentativas de fazer o cume do Pontão do Sol por ela e quatro rapeis sem cume. No carnaval de 2017 com a Ciça e agora no carnaval de 2018 com o Adriano, as duas vezes descemos de P4. Mas devo fazer uma consideração aqui meus amigos, a tal da Cecília Ferreira escalada pra car.…, ano passado ela guiou lances incríveis, numa via de V E3, que deixaram até o ninja do Adriano ‘abaulado’. Não é mole não enfrentar estas paredes.
Outras escaladas seguiram, algumas foram completadas com louvor, com Adriano e Ciça, grandes parceiros em escaladas incríveis pelo Rio. Mas na volta à Serra tivemos também um dia de heróis no Dedo de Deus. No aniversário da Marina tivemos bolo e comidinhas durante a escalada (o bolo chegou inteiro lá encima), mas não conseguimos fazer o cume.
Pegamos a via muito molhada e isto nos atrasou sobremaneira e tomamos uma chuva memorável na descida… Lucinha, Marina Adriano e eu ficamos todos moídos, fizemos rapel durante toda a trilha de descida, enlameamos o material mas chegamos sãos e salvos, sem nenhum arranhão na base. Ainda faltava o cume com a galera do CEC! Cheguei a conseguir escalar com a Michelle Bouhid o Mundo da Lua, mas ela ainda não era sócia do CEC. Foi chegando o final de 2017 e resolvi encerrar a minha temporada, descansar e me preparar para o ano de 2018. Comprei equipamentos novos, ressolei sapatilhas e ajudei a organizar a festa de fim de ano do CEC. Foi aí que finalmente recebi meu certificado da Chamine Gallotti pelos nossos queridos Tadeuz e Cionyra, escalada que eu havia feito em 1998 com o Hernando do CEC. Este foi o ponto alto de 2017 pra mim… Lembrando que a Cionyra me alfinetou, eu fiz quatro vezes a Gallotti, e você?!
A partir daí me programei para virar o ano em Salinas e ir me ambientando visando já a temporada de 2018. (Pois é sempre Salinas! A tal da pedra na sapatilha…) A festa lá foi incrível, tocamos violão, tomamos muita cerveja e chuva na cabeça, foram dez dias de chuva intensa, mas conseguimos fazer um pequeno reconhecimento do Pico Maior, desta vez com Alexandre Ferreira, Gislaine, Kamilla e a Luciana (que fez um batismo de pedra na Leste).
Passados estes festejos começava o ano… Então Alex e eu colocamos como objetivo desbravar especialmente Os Três Picos até o meio do ano, programamos carnaval, semana santa e primeiro de maio lá… E veio o carnaval. Sem lantejoulas sem confete mais uma vez fiquei sem fazer o cume, tentei o a Fata Morgana… nada! Foi uma escalada ótima, a primeira de muitas com novas parceiras, a Gislaine e a Paula Caetano, mas cansei antes da P4 da Fata (P6 no total). O Emerson o Alex e o Diogo estavam na CERJ, também em uma cordada de 3, mas foram as meninas que tiraram onda. A Maira formou uma cordada com a Michelle Bouhid e fizeram o cume lindamente, num tempo ótimo, ainda desceram antes de todos nós pra tomar cerveja no abrigo do Mascarin. Uma escalada de dar inveja, que ainda por cima consolidou a entrada da Michelle no CEC, seja bem vinda!
Ah, eu?!
Pois é entrei num rapel horrível na CERJ, demorei pra descer, adrenei, fui e voltei, briguei com as meninas, um festival de horrores tamanha era minha frustração. Mas calma, nem tudo estava perdido… Comecei a pensar que isso era uma pre-temporada, que quando o tempo firmasse eu estaria em dia com as trilhas e as pedras e poderia curtir com mais segurança estas escaladas incríveis na Serra.
A escalada tem esses tempos diferentes de outras atividades, se você achar que vai fazer um Dedo de Deus todo ano com a maior calma e não estiver preparado, vai se f… bonitinho. A montanha não alivia nunca, ou estamos prontos pra ela ou não, lembrem-se... se você pegou chuva, pode ter errado no planejamento e na avaliação durante a escalada. Aí veio a cereja do bolo, um bolo que demorei um ano e meio assando, a Semana Santa. E esta introdução toda é só pra contar que finalmente conseguimos fazer um cume na Serra, o Adriano a Gislaine e eu… Vejam bem, o Adriano e a Gislaine já tinha feito outras escaladas comigo, isto conta como experiência. Fortalecemos e agilizamos a nossa dinâmica juntos, ganhamos intimidade que é importante para vias mais longas, uma boa parceria de escalada se constrói ao longo dos anos… Não se iludam, a escalada é uma atividade de longos prazos.
Aí na sexta feira santa fui com o Adriano, sem maiores pretensões, de novo ao Pontão do Sol, com o objetivo de retomar um pouco o entrosamento, organizar o material de cada um, afinal seria a nossa primeira escalada no ano. Eu estou com corda dupla nova e precisava botar ela pra funcionar antes de tentar o cume do Capacete. Fizemos quatro esticões da via Sol Celeste (de novo ela) e descemos meio 'abaulados'. Mas gostei de ter guiado os lances que a Ciça fez no carnaval de 2017, lances corajosos, lindos e bem aéreos… Fomos presenteados com um nascer de lua fenomenal…
Aí no dia seguinte o ponto alto, sábado de aleluia…
Acordamos cedinho no abrigo do Portela, Alexandre e Gabriel saíram antes de carro baixo pois teriam que fazer a caminhada zigzag até o abrigo do Mascarin. Adriano, Gislaine e eu tomamos um café da manha vagaroso e preparamos os lanches para a escalada, a via escolhida era a Fata Morgana, mais uma vez, na lógica da ‘água mole em pedra dura’. Deixamos o carro no abrigo e comaçamos a caminhada (confesso que pensei em desistir durante a caminhada toda, imaginei várias desculpas, joelho doendo, tonturas, esquecimento de baudrier etc…) mas acabamos chegando na base lá pelas nove da manhã. O Alexandre e O Biel entraram na CERJ (isso mesmo, de novo, não se assustem é assim mesmo) e nós seguimos eles no primeiro esticão para depois entrar na Fata.
Eu lembrava que a via era muito mais fácil do que isso, mesmo tendo feito metade dela durante o carnaval, os lances são mais ou menos dificeis, mas quando me afastava das proteções ficavam assustadores, MEDONHOS… “O QUE QUE EU TÔ FAZENDO AKI C….!!!”. Fomos indo, cansando mas subindo. A via segue uma linha paralela à CERJ mas por fora do diedrão… vários lances de fenda e com muitas possibilidade de proteção. Tem paradas em chapeletas reforçadas com móveis ou bicos de pedra, mas tivemos que fazer uma parada em uma árvore’zinha num platô de mato, antes de P4. A Fata Morgana pode ser considerada uma variante da CERJ porque começa depois da P1 desta, mas depois segue uma linha independente até o cume. No final cruza a linha da CERJ no platô depois da artificial. É uma linha linda (sei q sou suspeito!) e segue bem pelo meio do ‘lagartão’ do Capacete, proporcionando vistas incríveis e utilizando platôs naturais em algumas paradas, bem confortável para escalar. Como equipe fomos precisos, arrumamos as cordas bem, agilizamos durante as paradas, e seguimos acima.
Pára… come um pouco... bebe água e trabalha… recolhe corda... arruma equipamento... passa as costuras pro parceiro... arruma a mochila de novo... tira e coloca a sapatilha... olha o croqui… olha pros parceiros como quem pede ajuda… arruma a costura de saída e … escalando ! …Tilim tilim dizem os friends pras costuras… bota um pé alto… senta bem no calcanhar… empurra o pé… e puta que pariu, a costura prendeu numa laca… ou o friend atrapalhou a passada… frio na barriga... volta um pouco… respira… segue… protege… erra e volta de novo… muda de caminho… olha pra baixo… os parceiros estão lá, quietinhos… não tem jeito… só pra cima que resolve!!
Adriano guiando o último esticão...
A foto do cume!
Chegamos ao cume cansados mas confiantes, encontramos a urna de cume, mas sem nenhum livro. E iniciamos a descida pela via Sergio Jacob. O rapel foi uma maravilha e chegamos na base às 17:00. A caminhada de descida do Capacete é o meu maior tendão de aquiles, eu odeio muito poucas coisas no mundo, esta é uma delas. Só que desta vez ela me surpreendeu, foi amigável, tava úmida mas não escorregadia... tava fresca... tava lindinha mesmo. Já comecei a falar em cerveja durante a trilha, no carro que queria ir pro boteco do Broa ali embaixo, em Santa Cruz. E a trilha ein !! A trilha tava lindinha, fofa até…
Fiz as pazes com a pedra, a trilha, o cume do Capacete, as cervejas do Seginho, o abrigo do Portela e todos os outros seres do mundo!
Agora falta ele... O Maior!
Bjs e boas escaladas