Como escalar leve

Por charao

INTRODUÇÃO

Existe um excelente artigo de 2010 escrito pelo nosso sócio Rafael Rossi sobre o peso do rack. Ao longo dos anos eu fui eliminando pesos desnecessários quando vou escalar ou caminhar e, muitas vezes, consigo escalar sem mochila. O objetivo deste pequeno artigo é explicar como conseguir grandes reduções de peso, lembrando que com menos peso você pode levar mais água ou simplesmente escalar mais leve e mais rápido, saindo da montanha mais cedo e com menos chances de mudanças climáticas ou menos perigo de descer no escuro. A dica é começar aos poucos, adotando as dicas abaixo por etapas e sempre testando em lugares mais fáceis, onde já conheça bem a via e aos poucos transpondo para lugares mais afastados. Quando adquirir um equipamento novo, teste em um ambiente já conhecido, ou seja, diminua o máximo possível as variáveis que podem dar errado (já são tantas!). Se quiser, leia antes o artigo postado no site do Carioca (http://www.carioca.org.br/blog/posts/quanto-pesa-seu-rack), pois o peso do equipamento, agora em 2016, ainda é bem próximo do peso em 2010. Sempre que for adquirir algum material novo, volte nestes dois artigos e veja se realmente está comprando algo leve. Depois basta começar a usar as táticas aqui descritas, até aonde você julgar confortável.

QUANTO PESA SEU RACK - ATUALIZAÇÃO PARA 2016

Neste artigo não vamos considerar o peso de equipamentos móveis, ok? Uma boa cadeirinha, leve, tem que pesar em torno de 350g. Existe mais leve porém não são confortáveis, são para vias esportivas. Se possível tente comprar sem a fivela das pernas, será mais leve, porém eu sempre acabo comprando com pernas reguláveis (mas mantendo este peso alvo de 350g). Uma lista de boas cadeirinhas pode ser ser encontrada aqui: http://www.outdoorgearlab.com/Climbing-Harness-Reviews/Ratings . A cadeirinha que preencheu todos os meus requisitos foi a Black Diamond Momentum.

Os mosquetões de rosca devem ser poucos, eu escalo só com 2 mesmo (o da solteira e o do ATC) e faço uma parada sem usar mosquetão de rosca (ver mais adiante). O peso varia de 40 g a 80 g, escolha os mais leves, claro. Sobre o equipamento de travamento do guia ou do participante, o MegaJul é auto-blocante e é leve (65g) porém eu não me acostumei com ele e acabo escalando com o ATC Guide mesmo (91g). Cuidado então com equipos muito leves, você pode comprar e não gostar deles, teste primeiro em lugares mais fáceis antes de sair levando para aquela grande aventura.

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Os mosquetões sem rosca e bem leves continuam pesando 23g e vale a pena procurar algo próximo. CAMP, Metolius e DMM fabricam mosquetões assim. Continua valendo o aviso de que eles tem pouca abertura e podem dificultar a manobra com cordas mais grossas. A solução é simples: na próxima troca de corda, consiga uma mais fina! 

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Recomendo uma corda abaixo de 9 mm, além de ser leve elas são muito compactas e cabem no fundo da mochila. Para mim a melhor corda desta categoria é a Mammut Serenity. Já tive várias outras marcas ao longo de 25 anos de escalada e para mim é o melhor fabricante. Vejam mais infos sobre ela aqui: www.alpinist.com/doc/web16b/ms-ml-mammut-8.7mm-serenity-dry-review e sobre cordas em geral aqui: http://www.outdoorgearlab.com/Climbing-Rope-Reviews . Uma corda que pese 51 g/m terá ao total 3.060 g para 60 m de corda. O desgaste da minha corda de 8,7 mm está sendo normal, não está sendo mais rápido do que as minhas antigas cordas de 9,8 e 9,4 mm que já tive. 
Esta resistência maior foi conseguida aumentando a relação capa/alma, que nesta corda atinge 38% ou seja, ela tem uma capa tão espessa quanto as cordas de 10,5 mm (fonte: http://www.mountaingear.com/themountainblog/2013/11/2619)

Sobre os cordeletes para fazer Prussik, sempre levo 3 afinal um será usado no back-up e é bom ainda ter 2 na cadeirinha. Sempre levo cordeletes de espessuras diferentes pois meu parceiro pode aparecer com uma corda nova, muita fina ou muito grossa e aí poderei adequar a espessura do cordelete com a da corda. Ah, fica a dica, se um dia precisar prussikar pela corda, no cordelete de baixo faça um Marchard e não um Prussik, o primeiro corre bem mais. Para o cordelete de cima, não faz diferença, pode usar qualquer nó.

Sobre a fita solteira, recomendo usar a corda como solteira, se não for rapelar pela via. E mesmo que for rapelar ainda pode usar um fita de 120 cm encurtada (não use a de 60 cm). Se preferir ter uma solteira mesmo, você tem 3 opções: uma fita de nylon não regulável, os anéis costurados tipo PAS 22 ou então o Purcell (minha preferência) que é altamente regulável e pode ter outras funções. Veja como fabricar o seu Purcell aqui: http://www.marski.org/artigos/artigos-tecnicos/56-artigos/441-purcell . O meu Purcell ficou com 132 gramas e ainda ganho 4 metros de cordelete para uma eventual emergência.Um PAS 22 pesa menos, 93 gramas, porém é mais curto e menos versátil.

Em resumo, meu rack está pesando o seguinte

PESO TOTAL NO RACK
Mosquetão de rosca x 2 44 88
Solteira Purcell x 1 132 132
ATC Guide 90 90
Cordeletes x 3 20 60
Expressa de 15 cm x 2 54 108
Expressa de 20 cm x 2 61 122
Costura anel 30 cm x 2 60 120
Costura anel 60 cm x 4 68 272
Costura anel 120 cm x 2 108 216
Corda 60 m X 8,7 mm 3060 3060

Antes que alguém faça uma piada, não, a corda não vai no rack, mas vai nas costas e vai ser puxada pelo guia, portanto ela entra no cômpito geral do rack. Teremos uma peso total de 4.268 gramas. Bastante coisa, hein? Para aliviar mais o peso, bastaria retirar vários mosquetões e fazer uma boca de lobo se você souber que as proteções são em grampos. Já usei tal recurso quando fiz a Petrópolis-Teresópolis seguida de Agulha do Diabo, levei uma corda de 8 mm (só um lado de uma corda dupla) e dobrei ao meio para guiar e ainda abandonei muitos mosquetões em casa, o que me permitiu levar um peso bem menor.

COMO NÃO LEVAR AS PARADAS

Você percebeu que não listei as paradas? Há muitos anos que não levo mais, faço só um back-up no outro grampo, o mais equalizado possível para evitar trancos. Mas, se quiser fazer uma parada leve, eu aprendi um macete com o Alexandre Portela que reproduzo aqui, usem se quiser.

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Tenho usado bastante este método, principalmente se for parada em móvel. Recomendo fazer o nó acima do loop, para evitar trancos se uma proteção falhar.  E tem que usar 3 pontos e fita de 120 cm, obviamente, a foto acima só ilustra o uso em proteção fixa.

OUTROS MACETES

O anorak tem que ser bem compacto para caber no bolso lateral da calça ou então ache um saquinho de nylon, bem compacto e prenda o anorak direto na cadeirinha.

O mesmo vale para a água, passe um cordelete no bocal de uma garrafa de 500 ml ou 750 ml e deixe o restante da água na base. Clipe este cordelete na sua cadeirinha. Numa emergência, use este cordelete!

Qaunto à lanterna, ela já pode ir presa direto no capacete, mesmo que seja de dia. Assim sobra mais espaço no seu bolso para levar comidas e o celular, que é um item já considerado obrigatório para usar em emergências.

FINALIZANDO

Descrevi aqui várias etapas que você poderá ir usando progressivamente. Não tente usar tudo de uma só vez, você corre o risco de não gostar de tantas mudanças e abandonar tudo. Vá aos poucos. Comece no quintal de casa e depois vá usando em escaladas mais afastadas, tipo Dedo de Deus. Claro que você pode e deve levar mochila, mas esconda em algum lugar da trilha e quando for escalar, leve só os itens acima. Ao voltar, encontrará mais comida e mais água, acima como mais agasalho. 

Quem tiver a curiosidade, volte lá na matéria do Rafael Rossi e compare os pesos dos equipos em 2010 e em 2016.

Se tiver uma ideia de aliviar mais ainda o peso, me escreva: alexcharao@gmail.com

Saudações da montanha!  

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