Conquista em Pancas - ES
Por Daniel d'Andrada
Chegamos em Pancas no final da tarde do dia 04 de Junho. Ficamos no camping do Sítio Cantinho do Céu, no vale do Palmital. O mesmo local onde havia ido em janeiro.
No dia 05, uma sexta, o Fabinho (dono do camping) rodou conosco a região. Fomos até Águia Branca e voltamos por Lajinha, vendo as montanhas da área. É tanta pedra que depois de um tempo você fica meio insensível. Passa um Pão de Açúcar e você nem dá muita bola.
Dia 06, sábado:
Como sexta foi chuvoso, acordamos mais tarde e fomos procurar a linha da via no morro do Camelo só no meio da manhã. Passamos pelos costões molhados com dificuldade (Adriano, naturalmente, foi quem teve mais facilidade) mas conseguimos chegar no platô que seria a base da via.
A parede em si estava perfeitamente seca. Levamos apenas umas 6 ou 7 chapas. A idéia era só testar a pedra e dar o pontapé inicial. A canaleta parecia boa, apesar de vermos um trecho mais vertical uns 60 metros acima. Mesmo assim decidimos tocar por ela mesmo. Qualquer coisa contornaríamos a parte vertical se não desse pra passar. Comecei a conquista: escalei um pouco e num ponto confortável bati a primeira chapeleta da minha vida (até então só havia batido grampos em uma conquista no morro da Moganga).
Depois continuei e bati mais três. Nessa última eu já estava bem tenso, com a panturrilha cansada e com vontade de bater a próxima em E1. Sinal de que era hora de passar a guiada pro Gabriel. Ele veio e bateu as suas duas primeiras chapas, fazendo sua estreia em conquistas. E assim fomos nos revezando. Estava rendendo bem mais do que esperávamos. Tanto que o Adriano voltou pro camping para buscar mais uma corda de abandono e mais chapas.
Quando cheguei na primeira parte mais vertical da via amarelei e não quis nem tentar de novo o lance sem o peso da mochila da furadeira. Passei pro Gabriel. Ele fez o lance não apenas sem furadeira, mas também sem a pochete de conquista. No rack apenas um talon hook e um cliffhanger. Péssima idéia pois quando ele parou para rebocar o material pela retinida, deu uma trabalheira arrumar a confusão de equipamentos. Daí em diante faríamos apenas o esquema tradicional de em lances mais difícieis o guia deixar a furadeira pra trás mas sempre levando a pochete de conquista.
No final da tarde descemos antes que ficasse escuro. Nessa primeira investida conquistamos 105 metros. Bem acima das nossas espectavivas. Na realidade, eu nem sabia o que esperar. Deixamos quase todo o material na base da via, coberto por uma lona plástica. Amanhã voltaríamos carregando água, algum lanche, mais chapas e muitas cordas de abandono.
Conversando com o Fabinho ele disse que pelo ponto onde paramos ele achava que faríamos cume na metade da segunda feira. Essa face já tem duas outras vias e ele nos disse que elas foram conquistadas em dois dias cada. Fiquei com esse "prazo" na cabeça.
Dia 07, domingo:
Acordamos cedo, tomamos café 06:30 da manhã e logo partimos pra segunda investida. A aproximação pelos costões foi bem mais fácil hoje com a pedra seca.
O que dá pra ver na foto acima é apenas cerca de 1/5 da via.
Já com a experiência do dia anterior, fomos conquistando com mais confiança e velocidade. Sempre reveazando a guiada, geralmente após 3 ou 4 proteções batidas. No meio da tarde o Sol era um desafio a parte. A água da mochila estava quente como um chá. Já perto do final da tarde o maior desafio era o cansaço. Me surpreendi em dois momentos por não conseguir fechar minha mão esquerda (sou canhoto). Algo como uma cãimbra.
Era final da tarde. Eu e o Adriano estávamos parados enquanto o Gabriel conquistava mais um trecho. Adriano comentou que estávamos chegando na hora crítica: O momento de decidir descer, rapelando ainda com luz do dia. Pensei que agora que havíamos aguentado a parte mais quente do dia, o melhor seria aproveitar essas horas mais amenas do final da tarde para conquistar mais. Como a via era basicamente reta, não seria problema rapelar durante a noite. O Gabriel terminou o trecho dele e perguntou o que faríamos. Subi rapidamente até ele para ver onde estávamos. Eu havia feito a via vizinha (Paranauê, uns 200 metros a esquerda) em janeiro e sabia que no final o morro dá uma deitada e fica bem fácil (2 grau de agarrência). Vi que havíamos chegado nesse ponto. Coloquei logo a lanterna no capacete pois já estávamos nos últimos minutos de luz do dia e toquei pra frente o mais rápido que pude. Uns 45 metros depois havia chegado num confortável platô a uns 5 metros de primeiro grau do cume. Instalei uma chapeleta lá e puxei eles. Finalmente cume!
Tiramos a foto de cume, olhamos a paisagem, descansamos um pouco e logo iniciamos o rapel noturno. Ia descendo e batendo as chapas rapeláveis. Gabriel rapelou na frente pelas cordas fixas e foi no camping buscar água para mim e pro Adriano, para quando finalmene chegássemos na base.
Chegamos no camping umas 21:40. Um longo e incrível dia.
Dia 08, segunda:
Depois de uma manhã de descanso no camping, voltamos pra via no meio da tarde pra fazer o croqui, retirar as cordas fixas e terminar de fazer as paradas de rapel. Um lance foi intermediado, ficando E1.
E assim ficou a via:
Como seguimos por uma canaleta o tempo todo, e só falávamos nessa bendita dessa canaleta, chamamos de Supercanaleta. Fica também como uma paródia à Supercanaleta original, na Patagônia, já que a nossa é patética em comparação. O croqui está na croquiteca do clube. Veja aqui.