O guia incompreendido
Sobre os percalços do guia, Cionyra Hollup, diretora técnica do CE Carioca, tem os seguintes pontos de vista que, aliás, são apoiados por qualquer guia:
Diz o dicionário que guia é aquele que conduz, dirige, aconselha, protege e mostra a direçao aos outros. Fácil definição, porém tratando-se de guia excursionista atentem para o que se segue:
Guia é aquele que tem que colaborar imensamente na programação de excursões do seu clube, procurando recordar-se de lugares há muito não visitados ou descobrindo novos pontos de atração, formulando-a de maneira agradar todos.
Guia é aquele que tem que angariar participantes, "catando-os" é bem o termo, para que a excursão se realize; convencendo-os de que a montanha é bonita ou que a caminhada é fácil ou que a praia é uma maravilha.
É aquele que tendo que alugar ônibus ou comprar passagens com antecedência, geralmente desgasta o sistema nervoso para receber as taxas em tempo a par das mil informações que tem que prestar aos interessados apesar das mesmas já constarem da lista de inscrições.
Tem ele que requisitar e retirar o material do almoxarifado necessário a excursão, barracas, cordas, lampiões, medicamentos etc. Uma carga respeitável. Surge então o problema do transporte que se complica no início da caminhada. A distribuição do material entre os participantes é um "Deus nos acuda" pois a maioria dos "anjinhos" quer que o guia se transforme em animal de carga. A preocupação do material perseguirá o guia até o regresso. Que nada se extravie e tudo volte em boa ordem às prateleiras...
Guia é aquele que ao convidar moças principiantes para uma excursão de acampamento tem que desfiar um rol de explicações às mamães, naturalmente zelosas por desconhecerem o convívio sadio do excursionismo.
E por falar em acampamento, neste os trabalhos redobram. É localizar e armar barracas, distribuindo os participantes pelas mesmas; é determinar pontos de serventia; é zelar pela ordem e limpeza; é um nunca acabar de providências para que tudo corra a contento geral.
Quando ele tem que achar a picada que não percorre há um ano, ou quando a conhece de olhos fechados, ainda aparece um novato alvoroçado que lhe dissolve a "felicidade" com comentário ferino: "É por ali... O caminho está errado".
Guia é aquele que arrisca a vida escalando a montanha "à unha", dispondo de segurança precária, que tem que saber dar nós e puxar o " bolha" que sem nenhuma consideração se pendura na corda. E empregar psicologia para animar os temerosos e frear os imprudentes.
É ter paciência beneditina, engenho e habilidade. Mostrar sempre cara alegre como se fosse o que estivesse mais se divertindo com a excursão.
O guia de clubes, no Brasil, nada ganha. Porém... algo existe que compensa os seus esforços, confortando o guia, este incompreendido. O prazer de cumprir integralmente o seu programa e ao término, constatar pelos semblantes cansados, porém satisfeitos, que todos apreciaram a excursão. E mais. A alegria de guiar... Esta é sua maior paga.