Primeira guiada em aderência - La Niña
Data: 16/02/2013
Guia: Gustavo Soares
Participante: Mariana Alves
Localização: Morro Dona Marta (face leste)
Via: La Niña 4o V E2
Relato: Mariana Alves
Fomos hoje na La Niña (4º V E2), na face leste do dona Marta. Achei muito legal fazer uma via que foi conquistada pelos meninos do clube (Miguel e Piu-Piu). Como tem sombra a tarde, combinamos de começar a escalada as 16 horas.
O acesso é bem fácil, de carro, subindo a Rua mundo novo (no final da marques de Olinda), ou pela General Glicério, só pegar a primeira rua a direita e depois a terceira rua a direita. Pode-se parar o carro próximo de um galpão e ir andando. A trilha começa a direita.
Paramos o carro e fizemos a pequena trilha, são 5-10 minutos numa trilha boba, mas com muito mato e buracos. Chegamos em um muro e seguimos por ali até a base, onde nos equipamos. Ali o Gus repetiu a sugestão que já tinha feito mais cedo pelo telefone “quer guiar o primeiro esticão? É bem
tranquilo”. Fiquei com medinho, mas achei que era uma boa tentar.
No meio do primeiro lance já pensei “putz, o que eu estou fazendo guiando aderência? Eu sou maluca”. A pedra é bem lisa, e estava muito suja, com muito limo. Além disso, eu apelidei a via de “cemitério de pipas”, pois tinham linhas e pipas velhas por todos os lados. Apesar dos lances não
serem muito difíceis, fui indo com muita calma, controlando o medo, e quando cheguei no primeiro grampo fiquei bem mais tranquila.
Fui subindo sem grandes problemas, naquela reza forte da sapatilha “gruda ai, minha filha, confio em ti”. Depois do segundo ou terceiro grampo me
deparei com uma barriguinha bem suja que me fez questionar se eu queria seguir. Fiquei ali um tempinho e olhei para baixo
“Tá brabo, to escorregando”
“Quer desistir? O grampo tá logo ali”
“É só faltam uns 5 metros!!”
Só quando você vê o grampo lá longe que você entende o efeito de um E2!!
Na hora o que controlou meu psicológico foi um ego-ridiculo, pois eu pensei “se eu desisto agora isso vai parar na cec-list e vão me zoar para sempre. Melhor eu seguir logo e fazer o esticão todo” Depois pensei: “O máximo que vai acontecer é cair” e segui.
O lance da barriga não tem agarras, é bem mais vertical e estava bem sujo. No alto do lance tem um agarrão enorme de mão que eu, baixinha, não
alcançava. Eu passei ali com todo jeitinho possível, e logo falei com o Gus “Eu tenho certeza que você vai passar brincando pois do seu tamanho dá pra alcançar a agarra que eu tive que dar uns 3 passos para encostar”.
O único problema foi mesmo no 4 grampo, que merecia uma costura bem grande. Porém, eu já tinha usado as que eu tinha nos grampos anteriores. Usei uma de 20, mas aquilo deu um atrito enorme na corda, que fez um zigue zague e ficava me puxando para o lado no lance em diagonal na sequência. A corda se tornou pesada e eu fiquei achando que ia pendular, mas deu para passar o lance bem e, ufa, costurar!
Chegando no 5 grampo armei a parada e fiz a dancinha da vitória, toda feliz de ter guiado o esticão em aderência e sem cair! Depois o Gus subiu bem tranquilo, parou rapidinho, tiramos foto, e ele seguiu em frente guiando o segundo esticão.
Nessa hora ele comentou que a via estava realmente muito suja, e entrou em um lance um pouco mais vertical. Dai veio a frase que nunca se espera ouvir do Gus “fica atenta que eu posso cair”. Ui, que alivio de não estar guiando. Hihihi. O gus passou o lance que tinha uma laca oca e uns pés bem sujos. Quando alcançou a agarra de cima deu um grito “UFA! Agarrão!!” Foi bem legal!
Ele armou a parada um pouco em cima, e eu subi, bem tranquila cantando “Corda de cima huuu corda de cima hááá”.
No terceiro esticão o Gus deu uma olhada no croqui e falou, aqui tem o crux da via. O esticão em si, era mais tranquilo que o segundo, tirando o lance do crux, que é uma barriga meio chatinha pois estava muito ensaboada e escorregadia. Pedi pra retesar pois meu pé começou a descer. Apesar de achar que ia escorregar, acabei conseguindo passar o lance. Na verdade, pra mim o Crux tinha sido muito antes, guiando a primeira barriguinha. Viva a corda de cima.
Logo depois do crux montamos a parada. Como já estava ficando tarde e tinhamos que ir para o rodizio de crepes do cec, o Gus resolveu rapelar dali "já passamos o crux, podemos descer". O rapel foi tranquilo, mas chegamos na base já umas 19:30, o que nos fez ligar as headlamps na trilha de volta. Claro que no meio do escuro no matagal não achamos a trilha correta e acabamos nos embrenhando no meio de um mato esquisito, com direito a escorregadas e machucados na mão do Gus. No meio disso meu chinelo (sim, eu levei um chinelo para a trilha de 5 minutos) arrebentou e eu tive que seguir descalça de um pé. Chegamos no carro rumo as casas, para banho e crepes com o pessoal do clube!
O visual é muito lindo, a via é muito legal, mas merece levar uma escovinha pois o musgo atrapalha muito na hora de guiar e escorrega bastante.
Agora... guiar aderência, haja coração viu!