Relatório de Excursão a TRILHA DO MORRO DA URCA - Rio de Janeiro - 07/05/2017 - por Cionyra Hollup
Quando a Diretoria do Clube Excursionista Carioca veio me informar que eu tinha sido designada para guiar uma excursão oficial do Clube, pela trilha do Morro da Urca, achei que não tinha escutado muito bem, afinal designar uma cadeirante para guiar uma excursão oficial podia ser brincadeira. Mas não era.
A princípio fiquei assustada, mas depois achei que teria capacidade para isso. Resolvi que aceitaria a incumbência e que daria o melhor de mim para não decepcionar meus Amigos*.
As 9:10 horas do dia 07 de maio de 2017, respirei fundo e resolvi encarar o desafio. Me trouxeram uma cadeira de uma roda só, chamada "Juliete". A cadeira não andava sozinha, tinha que ser puxada por 4 rapazes. Logo se apresentaram 4 montanhistas, que se revezavam com outros, para o "sacrifício". Apelidei-os de "Sherpas" (Nepaleses que levam nas costas cargas enormes de barracas e mantimentos e todo o material para a subida das montanhas no Himalaia).
Eram eles: Leandro do Carmo (CNM), Daniel Garcia (CEC), Marco Antonio (CEC), Samuca (CEG) e dois guarda-parques do PNT que vieram nos ajudar.
Durante a subida notei que eles estavam fazendo muita força, o suor pingava dos seus rostos. Não sei como eles conseguiram me levar montanha acima, já que a trilha não era um terreno plano, mas sim, cheio de degraus a serem vencidos. Não sei como agradecer tanto esforço. Não há palavras que descrevam meus agradecimentos. Nunca vou esquecer.
Estava preocupada com o meu marido, Tadeusz Hollup, conquistador do Paredão Secundo e da Chaminé Gallotti, sem dúvida a mais difícil escalada do Rio de Janeiro. Mas soube que o Charão (um médico maravilhoso que me acompanhou até a metade do caminho e depois voltou para acompanhar o Tadeusz), a Kika, a Paula, a Jana e outros participantes vinham com o Tadeusz. No total havia cerca de 20 participantes, cujos nomes vão a baixo:
Cionyra Hollup – guia
Tadeusz Hollup, Pierre Wolff, Alexandre Charão, Lourdes, Maria Luiza, Paula Ribeiro, Raquel e Luana Madalosso, Delson, Rô Gelly, Leandro do Carmo, Daniel Garcia, Marco Antonio, Rodrigo Rodrigues, Fred Campos, Cassio Pontes, Jana Menezes, Kika Bradford, e os guarda-parques do PNT.
Levamos +-2 horas para chegar ao Cume, isso considerando o tempo que meu marido Tadeusz, no auge de seus 87 anos, levou para concluir a trilha, sem maiores dificuldades.
Meus agradecimentos sinceros a todos que me ajudaram nessa empreitada. Deus os abençoem.
Cionyra Ceres de A. Hollup
Tadeusz Hollup no início da trilha do Morro da Urca
Tadeusz Hollup na trilha do Morro da Urca
Participantes da excursão no cume do Morro da Urca
Tadeusz e Cionyra Hollup no cume do Morro da Urca
Tadeusz e Cionyra Hollup no cume do Morro da Urca
-----------------------------------------------
Amigos – por Cionyra Hollup Ceres, 07.10.1965.
1. Talvez sejam os Amigos - o prazer de partilhar, com aqueles que tão bem nos compreendem e tanto bem nos querem, momentos de aventura e de felicidade.
2. Talvez seja a altitude – o ar rarefeito e puro da montanha, provocando uma sensação de euforia que por todos os meios procura se externar.
3. Talvez seja a imensidão - a imensidão das montanhas, do cenário grandioso que cerca o montanhista, que se infiltra no seu sangue, na sua alma, fazendo-o sentir-se como que parte deste maravilhoso Universo.
4. Talvez seja a vida - a vida que se percebe e que se sente em cada pássaro que canta, em cada fonte que murmura fria e límpida no meio da mata, em cada folha que sussurra ao passar da brisa, em cada inseto que incessantemente zumbe num fim morno de tarde no seio da floresta.
5. Talvez seja a presença de Deus - uma presença que se impõe e que se afirma a cada passo que dá o montanhista, seja na claridade fresca da alvorada quando ele sai para a montanha, seja no silencio da tarde quando cansado volta ao abrigo precário das barracas, seja na beleza das noites na montanha, quando o brilho das estrelas lhe dá a consciência e a verdadeira extensão de sua pequenez.
6. Talvez seja tudo, tudo reunido - os amigos, a altitude, a imensidão, a vida, a presença de Deus - que faz com que transborde dos olhos do montanhista a sua única, infinita, imensa alegria.
(Publicado no Boletim do C.E.C. e no Jornal "O Globo" em 1º Outubro de 1965)