Travessia Vila do Capão - Andaraí via Vale do Paty (PNCD)

Por charao

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A Serra do Espinhaço nasce ao sul de Belo Horizonte e termina na cidade de Xique-Xique, às margens do São Francisco, depois de percorrer mais de 1000 km. Um dos afloramentos desta quase cordilheira é a Chapada da Diamantina, que alberga diversas atrações como o Parque Nacional da Chapada da Diamantina e diversos outros pontos turísticos fora do parque como o Poço Azul e a Gruta da Pratinha.  

INTRODUÇÃO

Há muitas possibilidades de caminhadas, variando de 3 a 5 dias de duração, com alguns poucos itinerários oferecendo até 8 dias de trekking. Tudo é muito fácil de achar na Internet mas mesmo assim eu resolvi comprar o excelente Guia da Chapada (R$ 39) pois queríamos curtir algumas outras atrações fora do Parque Nacional e precisávamos de dicas de pousadas também. A intenção era entrar pela parte norte do Parque (Vila do Capão), subir a ladeira por onde se entra no Parque e caminhar em direção ao Vale do Paty, saindo depois na cidade de Andaraí, mais ao sul de Lençóis. Acredito que esta seja a travessia mais clássica de todas, dentro do Parque Nacional da Chapada da Diamantina. Existe outra, mais curta, que sai de Lençóis e chega da Vila do Capão e outra mais longa que sai desta última vila e vai até Mucugê (bem mais rara de se fazer).

IDA ATÉ LENÇÓIS

Optamos em sair do Rio numa sexta, fim do dia, para poder dormir em Salvador e pegar o ônibus bem cedo para Lençóis, organizando tudo de tarde e já saindo de Lençóis no dia seguinte. Quanto à mochila, resolvemos fazer no estilo pack light, walk fast, ou seja, levar o mínimo possível e caminhar o máximo por dia. A foto abaixo mostra o peso da cargueira da Carla mas ainda conseguimos tirar mais coisas e deixar no hotel para pegar só na volta. 

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A opção de sair do Rio de manhã era ruim, pois teríamos que pegar o ônibus da tarde para Lençóis, só chegando de noite (são 6 a 7 horas de ônibus), o que não daria tempo de comprar o gás do fogareiro, pegar mais infos e visitar nosso amigo Eduardo (Formiga) que mora lá. Deu tudo certo, foi um bom plano, talvez um pouco mais caro pelo fato de dormir em Salvador. Fiquem atentos pois em época de temporada a TRIP faz vôo direto para Lençóis, o que poupa um bom tempo de viagem. Enfim, sábado de tarde fomos nos encontrar com o Formiga, que tem um Refúgio na cidade, colocamos o papo em dia e pegamos uns betas sobre a travessia. Esta é bem fácil, com pouca possibilidade de se perder mas confesso que, olhando só para os mapas, era difícil de entender as várias opções de trajeto para se atingir o Vale do Paty. 

Com estas informações colhidas pudemos entender que dá para fazer 2 ou 3 trajetos diferentes que chegam no mesmo ponto e entendemos as vantagens e desvantagens de cada um.

IDA ATÉ A VILA DO CAPÃO

Pegamos o ônibus que vem de Salvador, entra em Lençóis e vai para Eduardo Guimarães, passando por Palmeiras onde descemos e pegamos uma velha van, com vários turistas estrangeiros. É incrível que no meio da Bahia tenha tantos visitantes de fora, fiquei muito orgulhoso pois prometia ser uma boa viagem com grandes atrações. A Vila do Capão concentre pousadas, turistas, hippies, estrangeiros a passeio, estrangeiros morando no Brasil, malabares e outras pessoas fantásticas, que percorrem o Brasil vivendo da arte de se apresentar nas ruas.

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A Carla, minha esposa, já tinha reservado uma pousada, chamada Tatu Feliz, de propriedade de um francês. Aproveitamos o fim de tarde nas ruas da cidade e de noite fomos a um espetáculo de circo (sim, tem uma escola da circo e haveria uma apresentação só de mulheres circenses, foi ótimo!!!!).

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No dia seguinte pegamos 2 moto-táxis para subir os 8 km até a Vila do Bomba, muito pequena e sem opções de hospedagem onde, finalmente, começaria a caminhada para o Vale do Paty, entrando no Parque Nacional.

ENTRANDO NO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DA DIAMANTINA

Não tem porteira, não tem guarda, cruza-se um rio, tem uma placa do parque, e pronto, já estávamos nesta unidade de conservação. Na placa, pegue para a esquerda (ou seja, mantenha-se indo reto) pois a trilha que sai para a direita da placa leva somente a piscinas naturais. Dali para a frente sabíamos que não teria mais bifurcações importantes, só uma longa subida, suave, de 1 hora de duração que nos levaria à boca do vale do Rio Preto por onde seguiríamos por algumas horas até sair para a direita e subir a ladeira do Quebra-Bunda. Acho melhor explicar com calma esta entrada no parque, já que tem uma pequena possibilidade de se perder. A estrada que vai até a Vila do Bomba TERMINA num rio, basta cruzar este saltando sobre as pedras. 

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Fim da estrada, começo da trilha.

O mesmo rio faz uns zig-zags mais acima e corta a trilha de novo, ou seja, passe sobre o rio mais umas 3 vezes, sempre cruzando sobre pedras até chegar na placa do Parque Nacional. Siga pelo lado esquerdo da placa. A subida começa de leve, suave, ainda dentro de Mata Atlântica. A medida que sobe a capa de solo fica menos, as árvores diminuem e aumenta a exposicão solar. A cor do solo vai mudando também de uma terra bege para uma areia mais branca.

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Suba bem cedo, evite o sol forte.

A subida é tranquila mas pode ser penosa se houver muito sol e se este estiver a pino. Não era nosso caso, eram recém 9h da manhã e havia nuvens. Não há água nenhuma nesta subida que dura 1 hora, sugiro sempre caminhar com 1 litro de água (não precisa mais do que isto). No final da ladeira fica nítido que as árvores sumiram e só tem capim e que o chão agora e feito de uma areia grossa, bem branca. Do fim da estrada, a direção é predominantemente reta, indo para sudeste, vencendo-se um morrote e depois deste começando a dobrar para sudoeste suavemente. Vê-se uma trilha, muito íngreme subindo uma montanha mais a esquerda mas logo se vê que é só um acesso, pouco frequentado, a um cume. A trilha principal é muito frequentada, em alguns lugares chega a ter 2 metros de largura. 

Ao olhar para trás verá a Vila do Bomba bem perto, a Vila do Capão mais o fundo e o Monte Tabor, gigantesco, bem ao fundo da paisagem.

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Fim da subida, Vila do Bomba logo abaixo.

Ao final desta subida, já pisando nesta tal areia branca, percebemos que estamos chegando na boca de um grande vale, muito largo. Parabéns, você acaba de vencer o primeiro degrau da travessia e está entrando num altiplano, chamado Gerais do Vieira, coberto por gramíneas e sulcado por pequenos rios de águas escuras .

GERAIS DO VIEIRA

A trilha, muito larga, se mantém no lado esquerdo deste Gerais e vai suavemente caindo para o meio até chegar numa grande bifurcação. Para o Vale do Paty, pegue a trilha que vai para a direita (ela é a mais larga).  Fique de olho no paredão da direita, mais a frente você terá que subi-lo.

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Pegue para a direita, mais aberto. É comum ver marcas de bicicleta.

A da esquerda até leva ao Paty também, de forma mais direta porém sem passar por diversas atrações. Continue atravessando alguns rios bem estreitos, de águas escuras e lá pelo terceiro rio (pegue água) fique atento, o melhor é achar a trilha que vai para a direita e que sobe a ladeira do Quebra-Bunda. 

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A gente nunca sabe qual é o último rio para pegar água, o correto é o que tem uma ilha no meio.

Caso continue a caminhar, de forma errada, pela trilha do fundo do vale, você chegará a um rancho antigo, que só tem um muro. Se isto acontecer, você errou, volte até o rio (pegue água) e procure a trilha que sobe o paredão que fecha o lado oeste deste vale. A trilha por baixo (a do rancho caído) até chega no Paty mas costuma ter muita lama e você perderá os lindos visuais de cima da serra, VOLTE e suba o Quebra-Bunda. 

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Ao subir o Quebra-Bundas evite pisar nas cobras, elas não gostam.

Esta ladeira começa numa trilha de terra mesmo porém logo vira uma subida pavimentada por grandes pedras, não tem como errar. A subida dura 15-20 minutos, até você alcançar outro degrau importante da travessia, o Gerais do Rio Preto. Como deu para perceber, a travessia alterna subidas, altiplanos, subida de novos degraus (paredões) e partes planas por cima dos chapadões.

GERAIS DO RIO PRETO  

Esta é a parte mais bonita da travessia. Um grande chapadão, uma trilha na beirada deste, com vários mirantes para o vale a sua esquerda. Montanhas íngremes do outro lado do vale como o Morro do Castelo, paisagens impressionantes. Continue caminhando, até aí já deve ter uns 10 km desde a Vila do Bomba, só faltam mais uns 12km até o início do Vale do Paty. Aprecie a paisagem, pare nos mirantes mas lembre-se, você está sobre o chapadão, bem na beirada e  aqui não tem água. Proteja-se do sol! Depois de uns 5 km você encontrará o primeiro dos mirantes, pode almoçar aqui ou continuar mais a frente. O tempo de percurso varia bastante. Nós estávamos com cargueiras contendo barraca, fogareiro e panela, ou seja, um peso considerável mesmo fazendo no estilo pack light. Muitas pessoas caminham de forma mais leve e param na casa do morador, onde há quartos simples e comida, portanto não é obrigatório carregar barraca, saco de dormir, fogareiro. Em resumo, é uma travessia para todos os gostos, desde os que querem ficar independentes, como nós, até o que preferem caminhar super leve, sempre parando na casa dos habitantes locais, o que é uma excelente ideia também.

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São vários os mirantes por cima do Gerais do Rio Preto

Continuando por cima do chapadão, você verá outros mirantes, pare onde quiser. Nunca tem água aqui. Quilômetros a frente você verá um muro de pedra vindo lá da direita até cortar a sua trilha. Passe pelo muro. Junto com este muro vem uma trilha também, bastante larga, que traz (ou leva) as pessoas até a Vila da Guiné. É uma opção de escape ou de travessia muito curta. Logo depois deste muro, fique bem atendo ao principal mirante, o mais clássico, que estará a sua esquerda. Pare lá, admire a entrada do Vale do Paty, você poderá tirar as fotos que terá visto em todos os guias, agências e sites sobre a Chapada. Uns 40 metros depois dele começa a ladeira que conduz ao fundo do vale. Pegue-a para descer rapidamente, mas se estiver muito pesado ou com o joelho ruim pode valer a pena seguir em frente e pegar a trilha do entorno, que segue por cima e depois desce suavemente.

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Foto clássica apontando para a entrada do Vale do Paty

Depois de descer a pirambeira, você chegará a um pequeno vale, bem estreito. Beba bastante água e pegue 500 a 1000 ml, ainda falta quase 1 hora para as primeiras casas do Paty, incluindo a casa da Dona Raquel. Se quiser parar logo, vá para a esquerda, você já terá o primeiro grupo de casas, chamado de Ruinas, porém ainda não é dentro do Vale do Paty. Depois da água suba uma ladeira e ao chegar mais abaixo de uma grande cruz, pegue a trilha da direita, desça e você vai encontrar a trilha que vinha lá do Entorno. Siga para esquerda, em direção ao Paty. Uns 300 metros depois outra bifurcação poderá te levar ou para o lado direito do Vale do Paty ou para o lado esquerdo, optamos por esta última pois queríamos fica no pé do Morro do Castelo. Com mais 1 hora de trilha, mais ou menos, chegamos na casa do Seu Nelson. Ficamos na próxima casa, mais abaixo, onde era permitido acampar. O camping selvagem também é muito comum, se não quiser ficar em nenhuma das casas.  

CASA DO MORADOR

Uma das grandes atrações do Paty e conversar com os moradores, Eta gente simpática!!! Eles são humildes, acolhedores, bons de prosa e vivem isolados de qualquer cidade! O único sinal de modernidade são os painéis solares, instalados em todas as casas, permitindo que estas tenham luz de noite e uma tomada para pequenos aparelhos.  Tínhamos levado um pequeno carregador solar para o celular e para a máquina fotográfica mas nem era necessário!

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 Bom, chegamos, conversamos, pedimos autorização para montar a barraca e fomos correndo para o rio, tomar um banho antes da noite cair. Depois ficamos conversando com outros grupos de caminhadores, com os moradores e também com os guias destes outros grupos. Não fazia frio mas um fogueira no quintal esquentou os ânimos junto com uma cachaça local. Para cozinhar, podiamos usar o fogão a lenha, o que nos poupou gás do fogareiro. 

CACHOEIRÃO POR CIMA

No dia seguinte pegamos uma mochilinha de nylon e partimos para fazer a trilha do Cachoeirão por cima. Voltamos uma boa parte do caminho de ontem mas, ao chegar na pirambeira, pegamos para a esquerda e subimos mais suavemente. Atingimos de novo o chapadão do Gerais do Rio Preto e tocamos rumo sul, em direção a Mucugê. Existe uma trilha, pouco frequentada, que segue para o sul até atingir esta cidade, uns 30 km mais o sul. Depois de uns 3 km começamos a dobrar para a esquerda, entrando num vale perpendicular, muito suave. Percebemos que deveria ser a bacia fluvial que gera o Cachoeirão, uma queda d´água quase tão grande quanto a Fumaça. Mais a frente passamos pela toca da Onça, uma parede negativa, quase uma gruta, que permite dormir sem ter barraca. Encontramos alguns grupos já voltando e queriamos ler nos rostos se era realmente bonito. Fomos tocando até atingir um bosque onde o rio sumia. Mais a frente chegamos nos dois mirantes, cada um de um lado do Cachoeirão. Lindo! Ficamos quase 1 hora lá curtindo, tirando fotos, subindo na pedra da foto abaixo, suspensa centenas de metros acima do penhasco abaixo, que começa num lago. Coloque a cabeça para fora e poderá ver a lagoa da base, em forma de coração.

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Mirante do Cachoeirão com a pedra suspensa

Para voltar, existem outros dois caminhos, pela fenda que sai no Paty ou descendo a lateral, super íngreme do vale da foto acima. Colocaram alguns cabos de aço para ajudar nesta descida. Alguns guias que estavam lá por cima desaconselharam, pois a navegação era difícil e só tinhamos mais umas 2 hora de luz. Voltamos pelo mesmo caminho, chegando lá pelas 17:30 na barraca. Fomos direto tomar outro banho de rio, outro ponto alto de toda a travessia. Tem rio para tudo que é lado, com exceção do primeiro dia! Quando voltamos para a barraca encontramos dois franceses recém chegados, que estavam fazendo o mesmo percurso que a gente. Incrível a quantidade de estrangeiros lá na Chapada! Eles estão conhecendo o Brasil mais do que a gente! Ficamos papeando com eles e combinamos de subir o Morro do Castelo juntos, no dia seguinte. 

MORRO DO CASTELO

A casa onde ficamos foi escolhida por estar no pé do Morro do Castelo. Fomos com os franceses por uma trilha fácil, um pouco íngreme, que começa um pouco antes da casa, cruzando o rio que tem em frente. Foram quase 30 minutos até chegar a enorme caverna que cruza a montanha de um lado a outro. Acendemos as lanternas quando a luz sumiu e logo depois já começamos a ver a luz do outro lado. Muito engraçado encontrar uma caverna em um ponto tão alto, quase no cume. Ao sair desta pegamos para a direita, em direção ao primeiro mirante onde uma linda vista para o oeste nos aguardava. Escale um pequeno bloco, é o melhor lugar para tirar fotos. Img 0185

Eu e os franceses no meio do Paty, num dos mirantes do Morro do Castelo.

Depois voltamos em direção à caverna, passamos pela boca, sem entrar e fomos até um outro mirante, ainda mais bonito, com vista para o leste. Estávamos logo acima da entrada da caverna e pudemos ver, uns 100m abaixo de nós, a trilha por onde viemos.

 Fizemos um lanche, bebemos água e voltamos para a escuridão da caverna. Dentro desta tem uma bica de água (do lado direito de quem está descendo) e aproveitamos para encher os cantis. Descemos rápido e logo estávamos na casa do morador. 

AO LONGO DO RIO PATY ATÉ A CASA DA DONA LINDA

Desfizemos o acampamento e seguimos para o sul, entrando de verdade no Vale do Paty. Digo "de verdade" pois até então estávamos na boca norte do vale, sem realmente entrar pois tínhamos tirado dois dias para visitar o Cachoeirão e o Morro do Castelo e só agora estávamos realmente adentrando o vale e seguindo pela lateral esquerda do Rio Paty. Passamos pela Prefeitura, onde cruzamos para a lateral direita e continuamos até a Casa da Dona Linda, um pouco antes da saída do Vale.

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Caminhando ao longo do rio Paty, às vezes perto, às vezes longe da margem.

Totalizamos 3 horas de caminhada. Pedimos autorização para acampar, armamos as barracas e fomos para o Paty tomar nosso último banho de rio. Ficamos curtindo um jacuzzi que tem logo embaixo da ponte (é uma ponte mesmo, bem grande, perdida no Vale do Paty). Esta ponte, pela sua imponência, parecia deslocada, algum símbolo de uma civilização perdida pois destoava das construções mais simples que vimos no Vale. Voltamos para casa de Dona Linda e ficamos conversando até a hora do jantar. Fomos dormir cedo pois no próximo dia teriamos a subida de uma grande subida.

A LADEIRA DO IMPÉRIO

Saimos tarde, umas 10h e isto foi um grande erro devido ao sol. Algumas pessoas saem às 4h para verem o por do sol já no topo, caminhando até Andaraí ainda com o sol mais fraco da parte da manhã. 

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Uma das últimas visões do Paty. Deste lado da ladeira ainda estávamos na sombra...

Os tolinhos aqui chegaram ao meio-dia no topo, ainda não estava tão ruim porém o sol foi ficando escaldante e a trilha para baixo não acabava nunca. No começo tinha bastante água e molhávamos as roupas e o chapéu para tentar enfraquecer os efeitos do sol. Lá pelas 13 ou 14h avistamos Andaraí porém os pés já doiam de tanto calor e descida. As pedras da trilha reverberavam o calor, a água escasseava e nada de chegar em Andaraí. Tive que parar numa das poucas sombras e deitar por uns 20 minutos. Realmente tinha sido um grande erro sair tão tarde. A caminhada em si era fácil, para baixo, porém o sol nos exauriu. As casas da cidade estavam visíveis porém a trilha zig-zagueava ao invés de descer reto. Parecia a descida da Pedra do Sino depois de ter feito a Petrô-Terê toda: não acabava nunca. A diferença é que na descida do Sino ainda tem alguma cobertura vegetal e umidade e aqui na Bahia não, as florestas só existiam dentro do Vale do Paty (este tem um micro-clima inserido na aridez do sertão). Finalmente chegamos às primeiras casas, totalizando 5 horas de caminhada desde a Casa da Dona Linda. É possível fazer em menos, em 3 ou 4 mas só se sair cedo e estiver sem cargueira.

ANDARAÍ 

Existe um Centro Histórico muito bonito, bem conservado, que devia fervilhar na época do garimpo e do café. Era no meio da tarde, dia de semana e aos poucos fomos nos acostumando com a volta para a cidade: carros, crianças brincando (quase não tem crianças no Paty), algumas lojas abertas. Tinhamos combinado de pegar um carro alugado e fomos até a agência. O carro estava lá, então resolvemos almoçar algo, estávamos morrendo de fome! Pegamos nosso Uno vermelho, abastecemos e tocamos pela rodovia estadual, bem conservada, em direção à Ibicoara, passando por Mucugê. Optamos por alugar um carro pois existem poucas opções de transporte público ao redor da Chapada. Tinha ônibus para voltar para Lençóis porém não havia para ir para o sul e ainda tinhamos várias atrações para ver, como a Cachoeira do Buracão e o Poço Azul. Se desse tempo iriamos na Cachoeirinha também. O pôr do sol no pegou logo depois de Mucugê. Foi incrível ver o céu mudando de cor, o azul claro ficando escuro, o amarelo do sol se tornando laranja e depois vermelho. As montanhas da Chapada, bem nítidas de dia, foram se tornando perfis escuros, erguendo-se em direção ao céu.

CACHOEIRA DO BURACÃO

O Parque Nacional da Chapada é bastante comprido, no sentido norte-sul e voltamos a entrar neste quando cruzamos Mucugê. Depois, chegando em Ibicoara (onde passamos uma noite super luxuosa e encontramos nosso amigo Pablo), entramos em um Parque Municipal onde a a contratação de um guia é obrigatória. A trilha é bem fácil, chegamos num primeiro "buraco" com cachoeira, achando que era isto e pronto mas que nada, o melhor ainda estava por vir. Difícil descrever, parecia um cenário do Indiana Jones, um vale super estreito, com águas suaves correndo em nossa direção. Uma prancha de madeira permitia atravessas os 8 metros de largura do vale para o outro lado. A pedra (arenito?) parecida um mil-folhas, toda craquelada em vários degraus que tornavam a caminhada fácil. Depois de uns 50 metros o estreito vale parecia se alargar. Já estávamos impressionados, nunca tinha visto algo tão bonito quanto aquilo até que chegamos ao fim do vale. Sem palavras, é de tirar o fôlego. Uma enorme queda d´água, escondida dentro de um buraco. Uns 100 metros de queda, um volume d´água muito grande, um vento forte soprando na superfície das águas. Sem palavras. Vejam as fotos e vídeos.

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POÇO AZUL

Este deve ser o principal destino dos visitantes da Chapada. Tínhamos saído de Ibicoara no mesmo dia que visitamos o Buracão e passamos a  noite em Igatú (que cidade charmosa!). Não deixem de visitar o Museu do Garimpo e tomar um café. Img 0333

A charmosa pousada onde ficamos em Igatú.

Com o nosso carro alugado zarpamos para o Poço Azul, outro lugar incrível! Dirigimos por quase 2 horas por uma paisagem bem mais seca do que a do interior da Chapada. Esta funciona como uma armadilha de umidade, pois cria as chuvas orogênicas que inundam os chapadões, estes alimentam as cascatas e rios, que permitem uma vegetação muito mais exuberante dentro da Chapada e mais rala do lado de fora.

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O calcário filtra a água, puríssima. O preço da entrada inclui máscara e snorkel para nadar.

Saindo do Poço Azul tocamos o mais rápido possível para Lençóis, pois tínhamos hora combinada para devolver o carro.

DE VOLTA A LENÇÓIS

Entregamos o carro em Lençóis às 17h, três dias depois de tê-lo pego em Andaraí. Com certeza valeu cada centavo investido. A maioria dos visitantes usa carros ou vans para visitar os locais ao redor da Chapada, o que é até bom porém isto teria retirado nossa liberdade de ir e vir, de escolher onde ficar mais tempo e de onde passar mais rápido. A noite em Igatú, por exemplo, não estava incluida em nossos planos porém encontramos de novo a nossa amiga lá no Buracão (a primeira vez tinha sido em cima do Cachoeirão) e ela nos avisou que tinhamos que conhecer Igatu. Excelente dica e só pudemos ir para lá, assim de supetão, pois estávamos com carro alugado.

A noite, caminhando na cidade de Lençóis, depois de ter devolvido o carro, encontramos outro grande amigo nosso, o Márcio Hosken! O Clube Carioca estava invadindo em massa a Chapada!!! Foi muito curioso e engraçado encontrar tantos amigos assim, sem marcar, em um lugar tão distante do Rio de Janeiro. 

Dormimos nossa última noite na Chapada e pegamos o ônibus das 7:30h (só chegou 8:30h) para Salvador. Como o vôo era só de noite e chovia muito, resolvemos ir almoçar e esperar em um shopping. Se estivesse sol íamos aproveitar para passear pelo Pelourinho mas não foi possível. Qual não foi nossa surpresa, caminhando pelo shopping, em encontrar um montanhista que tinhamos conhecido lá no Paty! Definitivamente, esta era a viagem dos encontros não marcados!

Chegamos no Galeão lá pelas 23h e antes da meia-noite estávamos em casa. Isto porque tinhamos acordado, neste dia, lá na Chapada da Diamantina. Que viagem, foi uma pena ir embora deste lugar tão perto do paraíso!!!  

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