Via: Teixeira (1912), Dedo de Deus | 3º IIIsup A1 E2 D3

Por renata.jiamelaro

Data: 28/05/2017
Local: Serra dos Órgãos, PARNASO
Via: Teixeira (1912), Dedo de Deus, 1692m | 3º IIIsup A1 E2 D3
Conquistadores: José Teixeira Guimarães, José Américo Oliveira Júnior, Accacio José Oliveira, Raul Carneiro e Alexandre José Oliveira.
Guia: Antônio Sant’anna | Participante: Renata Jiamelaro

Meu objetivo era aproveitar bem o final de semana no Parnaso e testar um pouco mais a minha resistência. Eu preferia ter usado o domingo para fazer alguma outra escalada dentro do parque, mas como a única opção de acampamento disponível era na sede, achei que faria então mais sentido escalar fora do parque, já que não estava a fim de subir novamente a trilha do sino ou parte dela.

Eu e Antônio conversamos durante a semana sobre algumas possibilidades para o domingo baseados no fato que talvez eu pudesse estar cansada depois de ter feito São João no dia anterior, mas que se estivesse ok gostaria de fazer algo mais puxado para testar minha resistência. Falamos de vias curtinhas no Santo Antônio Mirim, Dedo de Nossa Senhora (que ele não foi ainda e pra mim seria legal repetir para treinar artificial) e Dedo de Deus, que eu havia ficado curiosa pela Teixeira depois que soube que Adriano, Milone, Marina e Lucinha haviam ido recentemente, mas o Antônio preferia repetir a Leste.

Nos encontramos 6:30 no camping, Antônio conseguiu liberação na portaria para me pegar lá dentro. Conversamos sobre as opções, eu me sentia 85% e sabia que dava para encarar o Dedo por já saber o que esperar da Leste, disse a ele que iria sentir mais na trilha, mas que depois era ok. Ele topou e lá fomos nós.

Senti bem o cansaço do dia anterior no trecho de trilha até chegar aos primeiros cabos de aço. Chegando lá, havia uma cordada tripla na nossa frente. Enquanto eles finalizavam nós descansamos, nos hidratamos e nos equipamos.

Antônio entrou nos cabos de aço por volta de 8:20, estava mais seco do que da primeira vez que fui, mas com outros trechos meio babados. Seguimos equipados e encordoados no trecho dos trepa-pedras e cabos menores, perdemos um pouco de tempo (embora tenhamos francesado)... depois acabamos por nos confundir na saída à direita pra bifurcação... fomos e voltamos 2 vezes num determinado trecho próximo ao paredão do Dedo tentando encontrar a bifurcação... percebemos que realmente estávamos indo pela Teixeira e não Leste e já estava ficando meio tarde (10:00) e comprometida a escalada pela Leste... a opção mais segura seria então seguir pela Teixeira.

Antônio ficou meio inconformado com a situação e um pouco relutante em seguir por ela, não queria fazer uma via só de chaminé e como não tinha a intenção de ir por ela, não tinha pesquisado muito à respeito ou sabia se estava preparado pra ela, eu disse que o que ele decidisse estava bom mas que eu achava tarde para seguir pela Leste. Eu tinha vontade de seguir pela Teixeira (não imaginava que fosse uma via tão exigente) mas estava claro que o Antônio não estava satisfeito com ela... disse que o que ele decidisse pra mim estava bom. Tínhamos sinal e baixamos o croqui que não era muito informativo. Eu também comentei sobre a galerinha que havia feito ela recentemente quase até o fim... Ele decidiu seguir embora meio chateado ainda, deixando claro que não sabia se daria conta... por mim tudo tranquilo era só voltar se fosse o caso.

Por fim seguimos adiante, a manhã estava linda e logo começamos a avistar as paisagens impressionantes daquele ângulo... Garrafão e Cabeça de Peixe de um lado... Polegar, Dedo de Nossa Senhora e Escalavrado do outro, Verruga do Frade... por mim só aquela vista toda já valia a pena! Seguimos pelos cabos de aço, trilha e chegamos na base da Teixeira pelas 10:30. Descansamos, comemos, nos hidratamos e entocamos as mochilas por lá. Antônio havia levado uma mochilinha pequena e nela colocamos os anoraks, lanternas, água, celulares, esparadrapo e alguma comida. Eu levaria a mochilinha.

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Antônio entrou na via às 11:00. O 1º esticão é em técnica de chaminé em fendas de meio corpo até chegar num bico de pedra que você contorna para descosturar, pegar a alça do cabo de aço e subir no braço aquele trecho aéreo e vertical. Fizemos rápido esta enfiada.

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O 2º esticão também é melhor se feito em técnica de chaminé em fendas de meio corpo, assim fez o Antônio. Eu, de início não simpatizei com aquele trecho e achei que seria mais fácil escalando a pedra. Logo vi que estava enganada, pois seria um trecho bem técnico em agarrência. Aquelas fendas de meio corpo continuavam a não me agradar, pois poderia pendular para a direita. Antônio sugeriu que eu subisse de prusik e assim subi. Estava um pouco insegura sobre ter montado corretamente o sistema e reconfirmei tudo com ele antes de subir. Foi bem chatinho prusikar ali raspando na rocha, mas era um trecho razoavelmente curto.

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Veio então o trecho da famosa chaminé arranca botão, uma chaminé horizontal muito apertada, o Antônio mandou muito bem e passou sem dificuldades, colocou um móvel lá pra proteger um pouco o lance ou pelo menos enganar o psicológico. Aliás, para quem estava preocupado em dar conta da via, estava mandando muitíssimo bem!! Os 3 rapazes que estavam na nossa frente quando iniciamos nos cabos lá em baixo, já desciam por fora de onde estávamos e viram um pouco do meu sufoco ao entrar na chaminé do arranca botão... teve um trecho que eu achei assustador, respirei muito fundo e fui porque não tinha escolha... teeeenso! Hahaha muito devagarzinho conseguia fazer os movimentos... descansava, respirava e seguia. Acho que pra quem é magro, é mais tenso ainda passar ali, porque um corpo normal não tem como descer por estar entalado, mas a magrela aqui, podia “cair ou escorregar” pra baixo e consequentemente se entalar num trecho que seria quase impossível sair. Mas o pior ainda estava por vir... um buraco horizontal mil vezes mais esquisito que o buraco da galinha, PQP!!! Foi um daqueles momentos que eu pensei comigo “onde é que eu me meti!” Sofri pra passar ali, acho que estava mais baixa de onde era para estar e tudo enroscava, o Antônio tentava me ajudar e se divertia ao mesmo tempo com o meu sofrimento... o apoio dele foi fundamental ali para eu me manter no meu controle, respirar e seguir em frente. Houve uma parte que eu não conseguia sair do lugar, tudo estava enroscado e me segurando, ele me pediu para passar as costuras e etc, a fivelinha na perna do baudrier dava a impressão que ia me rasgar de tão apertado que estava ali, Antônio me estendeu o braço tentando ajudar... foi um sacrifício mas aos poucos e com movimentos milimétricos finalmente consegui me desentalar e passei! Que alíviooooo, botei todos os meus xingamentos que estavam entalados pra fora também! hahahah

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Bom, já eram 14:00 e não estávamos no cume, a neblina havia chegado e o dia já não estava mais tão lindo. Depois de ter chegado até alí com todo aquele esforço e estarmos próximos do cume, a vontade de nós dois era continuar, CLARO! Estávamos cientes que teríamos que agilizar, chegar no cume, assinar o livro e descer. Embora houvesse muitas nuvens, não havia previsão de chuva para o fim de semana, tentamos checar a previsão, mas não havia sinal alí. Resolvemos confiar na previsão vista anteriormente e dar sequência.

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Os próximos trechos eram fáceis, mas a comunicação ficava ruim adiante. Antônio me avisou, um pouco preocupado, que tinha mais uma chaminé (sabia que eu estava cansada), perguntei se a chaminé era vertical e quanto mais ou menos de altura tinha. Me pareceu que dava pra encarar tranquila e disse pra ele tocar, como a comunicação estava ruim, ele me puxou antes e então seguiu na última chaminé que dava praticamente no platô da escadinha. Fui na sequência sem maiores dificuldades. Que alegria visualizar a escadinha!

Antônio me cedeu a honra de subir a escadinha e chegar ao cume, fiquei surpresa e num primeiro momento hesitei a aceitar pois a saída da escada é meio esquisita, mas vi que não tinha erro e cuidadosamente subi para não balançar muito rs, costurei no vergalhão dela e passei pra rocha seguindo ao cume! Que satisfação chegar no CUMEEEE depois de tantas decisões tomadas em conjunto, dificuldades e aventuras... Dei seg pro Antônio que veio na sequência... Havia 2 malucos lá em cima fumando um baseado. Assinamos o livro, comemos, bebemos, tiramos a única foto no cume por volta das 15:10, colocamos os anoraks, as lanternas pra agilizar na descida e descemos uns 10 minutos depois dos malucos que saíram na nossa frente. Iniciamos os rapéis. Havia outro doido com mais 2 meninas subindo pela Leste ainda, já eram quase 16:00.

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Os rapéis foram todos tranquilos, pegamos as mochilas na base da Teixeira e seguimos na trilha ainda com luz do dia. Logo anoiteceu e depois a neblina começou a chegar, seguida de uma chuvinha leve, suficiente para deixar tudo babado e ir molhando a corda... Sem luz do dia e com a corda meio molhada, estava difícil visualizar o meio, tive a idéia de perdermos um tempo pra achar o meio e colocamos esparadrapo pra agilizar nos longos rapéis posteriormente. Identificamos o trecho da bifurcação no escuro! Antônio tentou achar o grampo para o rapel expresso, não conseguiu. Fizemos o último rapel descendo por um cordelete que ele abandonou fixando numa ancoragem do cabo. Finalmente terminamos os rapéis, guardamos os equipos e seguimos na trilha com atenção ligada no nível máximo. Chegamos na estrada por volta das 20:00 acabados mas com aquele sentimento bom e o alívio de que tudo deu certo :)

Foi um longo dia de escalada com muita aventura. Pra quem queria testar um pouco mais a resistência, acho que foi mais do que testada! rs Bom saber que eu aguento, melhor ainda ter noção que o ideal é estar bem descansada e 100% - deu tudo certo, mas sei que teria sido menos sofrível se estivesse 100%. A chaminé do arranca botão foi o maior perrengue pra mim... não volto mais nela não! Teixeira riscada da lista! rs

O Antônio mandou muitíssimo bem, super parceiro, responsável, passa confiança em todos os momentos e analisa a tomada de decisões em conjunto, muito bom escalar com gente assim! Super valeu o dia, obrigada!!


ps. Antônio levou friends do 1 ao 4 e usou em 2 ou 3 locais. A corda de 70m tb contribui com o cansaço e demora.

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